Prefácio
“Da vida que se renova”
Por Ana Catarina Pereira
A dedicatória inicial, colocada nas primeiras páginas, logo indicia a obra: estamos perante um objecto literário e essencialmente poético que olha para metade da população mundial e que convoca a outra metade para o exercício dos seus direitos.
Rosas Claras são todas as mulheres que
diariamente vivem a condição feminina como uma parte da sua identidade e que, dessa forma, inspiram ao poema. Rosas Claras são as filhas, a mãe, toda uma geração de mulheres da família, das amizades, das relações, das vivências e da contemporaneidade de Rogélia Proença.
Nesse sentido, recordemos o masculino universal (felizmente já tão estranho a ouvidos
mais atentos) que Saramago usava para definir: “O escritor é um homem do seu tempo ou não é”. A poetisa que escreveu estas páginas, pode dizer-se, é uma Mulher do seu tempo, consciente do imenso caminho que ainda
temos que percorrer na concretização de uma igualdade de oportunidades, visível em todas as acções do dia-a-dia.
Da sua experiência pessoal e desta mudança de década que necessariamente liberta a nostalgia, o expectável balanço. Rogélia olha
para o mundo como se este nos enviasse sinais de abrandamento, de silêncio e de reflexão, para um aperfeiçoamento que se quer de dentro e também nosso.
Dos seus anos de vida chega-nos um autorretrato de quem olha pelo e cuida do outro em diversas frentes: Dia após dia, volta após volta, Lendo corações, lendo sonhos, Orientando vidas, Alimentando almas, Apontando caminhos, Erguendo casas, Lançando navios, Nos mares profundos / Dos oceanos da vida, Nas rotas almejadas / De quem se gera, Em cada sala, em cada ventre, Em cada era…
Na vida e na obra de Rogélia Proença (num jeito pleonástico de se dizer) é difícil, e não seria sequer proveitoso, delinear a separação entre os mundos pelos quais se move.
Não sabemos ao certo onde começa e onde
termina a mãe, a educadora, a observadora, a poetisa, a mulher de causas, nascida neste Interior que nos define, do qual viaja e para o qual sempre regressa. Não necessitamos sequer de o saber, pois é desta multiplicidade
concreta que surgem os seus poemas, consagrados no verso É aqui que sempre Sou.
As rosas que Rogélia nos oferece convidam ao retorno à pureza inicial.
Ao silêncio que conforta, ao abraço que compensa um desmesurado tempo
de máscaras e inquietações. A sua voz, a voz da Poeta, reclama a reparação urgente que tanto pode traduzir-se numa revisão de prioridades
como num regresso ao Ser, numa alegria estonteante ou num desafio que não se teme. A voz da Poeta reclama, ademais, a atenção às coisas simples: à música que escutamos, ao sol que se levanta, aos tons da terra, à beleza dos que se entregam, à luz que incide na janela. E é a partir delas que escreve, que a lemos, que vamos.
Os dias são de Poesia, de facto. Leio o livro de Rogélia e escrevo estas linhas num momento único e tão desejado na minha vida. Num momento em que, dentro de mim, bate um segundo e tão mais puro coração. O coração de uma menina que irá tornar-se mulher com o exemplo de uma força inspiradora como a desta Poeta, mas também com o exemplo das
meninas do Afeganistão acabadas de chegar a Portugal, com as histórias que partilharemos, com a vida que nunca deixaremos de celebrar.
Obrigada, Rogélia, por tudo o que já nos ofereceste, a mim e a ela. Que continuemos a traçar este caminho de arte e de humanismo para as nossas meninas e mulheres, e para todas as gerações que nos irão seguir,
desejavelmente com mais luz e mais liberdade.
Porque liberdade, como bem dizes: É sentir o dia, apesar da noite, em nós a durar… A necessidade, a preocupação a aflorar, O desapego e a dificuldade a assomar… A tragédia, no nosso encalce, a assolar / Os
dias, as horas, os minutos… Ou essa sombra a queimar a pele e a alma / E a querer-nos atrasar, E, ainda assim, Ser em nós, mais forte, o Sol a brilhar!
(Livro bilíngue português/inglês
Tradução de Susana Costa)
Ilustrações de Matilde Paulo Rato
Prefácio de Ana Catarina Pereira
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